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MESTRADO (1992 - 1997)

METAMORFOSES DO ESPAÇO IMAGINÁRIO: UM ENSAIO TOPO-LÓGICO RELATIVO AO UNIVERSO DA CULTURA, DO ESPAÇO E DO IMAGINÁRIO.

 

 

Georges Balandier

(Foto: Capa de Conjugaisons, obra lançada em 1997)

 

Metamorfoses do Espaço Imaginário: Um Ensaio Topo-Lógico Relativo ao Universo da Cultura, do Espaço e do Imaginário corresponde ao texto da minha dissertação de mestrado em antropologia social. Este trabalho foi defendido em 1997 e teve por orientador o Professor Doutor Carlos Moreira Henriques Serrano, do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). O mestrado recebeu apoio do CAPES-CNPq na forma de uma bolsa de estudos para o custeio das atividades de pesquisa. Não seria demasiado registrar, esta dissertação reporta a um longo histórico de especulações voltadas para a compreensão da percepção social do tempo e do espaço, assim como da Africanidade.

Georges Balandier (1920- ), antropólogo e africanista francês. Sua obra constitui uma das mais fortes referências teóricas presentes em Metamorfoses do Espaço Imaginário. Os modelos conceituais criados por Balandier, dotados de forte originalidade, caracterizam-se pela preocupação em explicitar, através da análise das sociedades tradicionais, os contornos e as contradições da modernidade.

Metamorfoses do Espaço Imaginário explora as possibilidades e potencialidades de uma antropologia topológica, ou seja, uma vertente de estudos dedicada à percepção cultural do espaço. Dado que o espaço forma um binômio inquebrantável com a dimensão tempo em qualquer plano ou perspectiva de análise, este trabalho, embora imprimindo maior ênfase na dimensão espacial, deteve-se igualmente na avaliação do tempo, ou mais bem colocado, do tempo social, na conjugação que este permanentemente articula com o espaço socialmente organizado.

Metamorfoses do Espaço Imaginário constitui trabalho de mote conceitual, operacionalizando a análise tanto no sentido sincrônico quanto no diacrônico. Assim sendo, identifica o que há de permanente nas paisagens imaginárias esposadas por grupos, povos e civilizações. Configurando-se como elementos invariantes, estes modelos, ao mesmo tempo em que emprestam significação sensível ao universo concreto da realidade social, subsidiam em contrapartida um reporte concreto aos elementos do imaginário. Por esta razão, o conceito de imaginário constitui aspecto essencial das avaliações realizadas ao longo do texto.

Relativamente às construções imaginárias do espaço, a proposição é a de que estas usufruem relativo adiantamento diante da concretude social. Há naturalmente uma interconexão entre o real e o ideal e vice-versa, pois o imaginário age sobre o mundo concreto e este, ao ser assimilado e interagir com os instrumentos de que dispõe a consciência social, termina por provocar sua transformação. Outrossim, a própria discussão consignada no texto explicita a importância do imaginário social em termos dos desdobramentos provocados na organização espacial concreta das sociedades, inferência extensamente sublinhada ao longo do texto.

Contudo, a análise inserida na dissertação descarta formulações típicas de várias teorizações referentes ao imaginário que emprestam a ele um papel soberano na organização da vida social. Os elementos que povoam qualquer imaginário possuem um caráter histórico, sem o qual não podem ser devidamente decriptados. Recorde-se que a enganadora concepção de um fundo arquetípico imutável poderia filiar-se ao superado mito das sobrevivências culturais, em certa época em voga entre os cientistas sociais.

Ademais, na elucidação das contradições que transparecem na figuratividade do espaço, adotou-se o primado caro à antropologia política pelo qual o reconhecimento da realidade se estabelece não só com base experiências comuns dos homens de uma dada sociedade, mas também nas suas relações contraditórias, mantidas pelos membros de uma sociedade entre si e com os demais grupos. Assim, as prefigurações imaginárias do espaço são avaliadas enquanto instrumentos de consolidação da solidariedade e da identidade grupal, e ao mesmo tempo, enquanto instrumento de manutenção e manipulação por parte das hierarquias de poder.

Na seqüência, a discussão travada no interior do texto identifica, pois a Topologia como um nexo epistemológico que diz respeito às formas manifestadamente contraditórias com que as sociedades, seus grupos, suas classes sociais, suas redes internas, reelaboram permanentemente seus símbolos culturais para estabelecer ou restabelecer a diferença, assim como sua politização, decorrente da manipulação deste mesmo conjunto de símbolos, por este ou aquele segmento da sociedade, que inventa, "fabrica" verdades e espaços.

Paralelamente, visto ser o meio ambiente indissociável da reprodução concreta e do universo simbólico das sociedades tradicionais, e ademais, fundamental para a compreensão das formas adotadas por estas para a apropriação do espaço, a dissertação dedica especial atenção à questão do relacionamento com o meio natural. Foi apoiado nos fluxos naturais - e não em resoluta oposição a estes - que o homem de outrora criou seu próprio espaço artificial, para cuja irrupção concorreram os íntimos intercâmbios mantidos entre as prefigurações do Imaginário e os dinamismos do meio natural. A espacialidade tradicional foi continuamente articulada pela assimilação da enorme multiplicidade de pulsões do meio natural, com as quais foram gestadas diferentes emanações da artificialidade.

Milton Santos

(Foto: Cleusa Aparecida da Silva)

O geógrafo Milton Santos (1926-2001) é outra referência fundamental na minha dissertação. Ganhador do Prêmio Vautrin Lud (1994), considerado o Nobel da Geografia, Santos foi até o presente momento o único geógrafo do Terceiro Mundo agraciado com esta distinção. Sua obra, mundialmente reconhecida, é fundamental para a compreensão dos dinamismos espaciais e temporais, assim como sua associação com a organização do espaço geográfico.

Outro aspecto relevante é o fato da discussão referendar-se - tanto no referente às acepções plásticas, sensíveis, pulsantes, qualitativas, imaginárias ou topológicas strictu sensu do espaço quanto no tocante aos seus aspectos concretos, materiais e quantitativos - numa extensa bibliografia de cunho africanista. A África Negra, especialmente os macro-conjuntos bantu e sudanês, atende pelo essencial dos levantamentos empíricos utilizados para a construção da argumentação. A Africanidade neste estudo é tanto o subsídio central para a avaliação da pré-modernidade como também o veio de diferenciação, pois a partir dela o ensaio frisa não só os aspectos gerais e comuns da pré-modernidade relativamente aos modelos espaciais imaginários, como também as especificidades existentes no inúmero rol de culturas e civilizações que a compõe.

Por fim, o texto do meu mestrado enfoca as implicações topológicas da modernidade, que assinalam, neste particular, uma ruptura radical com as sociedades de outrora. O mundo moderno, diferentemente de toda a antiguidade, entende o tempo, e não o espaço, enquanto dimensão hegemônica. O homem contemporâneo, vivenciando um cotidiano regido pela temporalidade, tende a recusar qualquer entendimento não-temporal em sua compreensão de mundo. O espaço, deixa de fazer sentido inclusive pela própria transitoriedade das formas artificiais implantadas ao longo da natureza segunda. O tempo linear de mercado, fazendo e desfazendo a seu gosto os processos e os elementos constitutivos da espacialidade, transforma o espaço numa simples materialidade colocada a sua disposição.

Esta inferência, básica para a compreensão dos aspectos mais acirrados da crise generalizada que acomete o mundo moderno, é também indicativa dos móveis que podem solucioná-la, ou seja, aponta para a necessidade de reconciliação com o espaço, e simultaneamente com todo um rol de dimensões sensíveis e ambientais que se articulam com ele.

Como ponderou o geógrafo Milton Santos, nas condições atuais do mundo, ainda mais que na era precedente, o espaço está destinado a desempenhar um papel importante na escravidão ou na libertação do homem.

Uma resenha de Metamorfoses do Espaço Imaginário: Um Ensaio Topo-Lógico Relativo ao Universo da Cultura, do Espaço e do Imaginário foi publicada na Revista África, do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo (CEA-USP), nº 20-21, 2000, p. 433, São Paulo, SP.

Dados catalográficos e acadêmicos de Metamorfoses do Espaço Imaginário: Um Ensaio Topo-Lógico Relativo ao Universo da Cultura, do Espaço e do Imaginário estão disponíveis no Banco de Dados Bibliográficos da USP, Catálogo On-line Global - DEDALUS, no link:

http://dedalus.usp.br:4500/ALEPH/POR/USP/USP/DEDALUS/FULL/0929204/

O texto integral de Metamorfoses do Espaço Imaginário: Um Ensaio Topo-Lógico Relativo ao Universo da Cultura, do Espaço e do Imaginário está disponibilizado para consulta na Biblioteca Central da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).

 

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